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      Modos Gregos - Breve Histórico e Visão Geral

      Por: Danilo Fontes | Categoria: Guitarra e Violão, Teoria 10046 exibições Dificuldade Intermediário

      Olá a todos os entusiastas do Guitar Battle/Cifraclub!

      Escolhi este assunto para iniciar, pois acredito que é de interesse geral dos guitarristas e, muitas vezes, é visto de modo obscuro. Por outras vezes, todavia, é visto de forma extremamente simplificada, não alcançando toda a densidade que o instituto contém.

      Em vista do extenso material já disponível na internet, viso trazer aqui uma abordagem mais pessoal do tema, bem como aspectos históricos e conceituais, relacionando concepções das músicas erudita e popular. Dentro desta, especialmente do jazz, que é um estilo precursor na aplicação da harmonia modal.

      Nós, guitarristas, geralmente temos pouco ou nenhum contato com a música erudita. Por essa razão, optei também por trazer um breve histórico da harmonia modal nesse estilo, abordando questões relativas ao temperamento musical; afinal, nossas guitarras não caíram dos céus afinadas como são hoje. É importante compreender que tudo tem uma razão de ser.

      Espero que seja de bom proveito para todos!

      I – Um pouco de história

      a)      Na música erudita – Renascentismo

      Historicamente, os modos gregos foram utilizados especialmente na música litúrgica da Idade Média, motivo pelo qual também são designados modos litúrgicos ou modos eclesiásticos. (wiki/modosgregos). Todavia, é importante destacar que os modos gregos, na época, tinham uma concepção muito diversa da qual adotamos hoje.

      Uma das razões para tanto reside no fato de que os sistemas de afinação utilizados na época eram bastante diferentes do atual. Até meados do século XV, o sistema utilizado era o desenvolvido por Pitágoras, denominado pitagórico. Em suma, era possível obter quintas perfeitas, mas não em todas as tonalidades.  Assim, apesar da precisão do intervalo em determinadas tonalidades, em outras havia uma irregularidade muito grande, gerando grande limitação aos compositores. Por essa razão, possivelmente se optava pela exploração de diferentes modos dentro de uma mesma tonalidade ao invés de tonalidades diferentes. (wiki/temperamentomusical).

      Contudo, os sistemas de temperamento mudaram ao longo do tempo. Talvez o principal marco desta mudança tenha ocorrido por intermédio de J.S. Bach, quando de sua publicação mais famosa,  O Cravo Bem Temperado, que foi possivelmente a primeira coleção de músicas para teclado em que se desenvolveu músicas prontas nas 24 tonalidades. (wiki/ocravobemtemperado).

      No temperamento utilizado atualmente na música ocidental, chamado temperamento igual, optou-se pela unidade ao invés da perfeição harmônica. Deste modo, os 12 semitons são divididos de formas iguais, ainda que isso gere pequenas imperfeições; sendo somente as oitavas perfeitas. (wiki/temperamentomusical).

      A partir deste momento, houve uma mudança na abordagem harmônica da música erudita, que passou a ter um enfoque predominantemente tonal. Vale constar que a tonalidade na música erudita começou a se diluir com Beethoven, Debussy, até chegar ao atonalismo de Schoenberg. Mas os caminhos tomados para tanto merecem uma coluna à parte, pois diferem em muito das concepções adotadas pela música popular, que é o foco do nosso instrumento.

      b)       No jazz

      A utilização dos modos gregos no jazz é bastante contemporânea e em nada se relaciona com questões de afinação. O jazz modal veio a dar maior flexibilidade melódica ao solista no momento de seu improviso, característica muito marcante do estilo que não encontra correspondência na música erudita.  Pode-se dizer que no jazz ela surgiu como uma resposta ao movimento do bepop, estilo caracterizado muitas progressões harmônicas envoltas por um centro tonal.

      De fato, ao analisarmos um tema de bebop, como Giant Steps do John Coltrane, em razão da quantidade de cadências e da velocidade do beat da música, o improviso fica restrito praticamente à execução das notas dos acordes, tendo por função a sinalização do movimento harmônico. Assim, a liberdade melódica tende a ser mais limitada.

      O grande marco do jazz modal é o álbum A Kind Of Blue do Miles Davis, lançado em 1959. A faixa mais famosa desse álbum “So What”, que veio a se tornar um famoso standard de jazz é composta de apenas dois acordes, tendo 16 compassos consecutivos de Dm. Dessa forma, o solista tem mais liberdade para desenvolver motivos melódicos, pois a ênfase não é harmônica, como ocorre nas cadências.

      Posteriormente, outros músicos como John Coltrane e Herbie Hancock acabaram lançando outros trabalhos na mesma direção de Miles Davis, como My Favorite Things (1961) e Maiden Voyage (1965), respectivamente.

      Compreender a utilização dos modos no jazz é fundamental, pois seu conceito pode ser aplicado inclusive dentro do rock.

      II – Aplicabilidade prática na guitarra

      a)      Teoria Geral

      Grosso modo, os modos ocorrem na inversão da tônica da escala e nas consequentes mudanças dos intervalos, pois, a partir do momento de invertemos a ordem da escala mantendo as mesmas notas, são geradas tensões diferentes, sendo estas as responsáveis por conferir as características de cada um dos modos.

      Assim, imaginando a escala de C, teríamos sete modos dentro dela, número equivalente às notas da escala. Os nomes dos modos gregos, que representavam as respectivas regiões na Grécia Antiga, são os seguintes: jônio (maior natural), dórico, frígio, lídio, mixolídio, eólio (menor natural) e lócrio.

      Os modos jônio e eólio são chamados de maior e menor natural, respectivamente. A razão para tanto reside no fato de que a estrutura intervalar destes modos foi adotada como padrão pelo sistema tonal, tendo os outros modos praticamente caído em desuso à época.

      Considerando a escala maior natural (jônio) como referência, podemos dizer que o dórico é esta partindo do segundo grau, o frígio do terceiro e assim por diante. Tomando por exemplo a escala maior de C, teríamos:

      C Jônio      C – D – E – F – G – A – B
      D Dórico    D – E – F – G – A – B – C
      E Frígio      E – F – G – A – B – C – D
      F Lídio        F – G – A – B – C – D – E
      G Mixolídio  G – A – B – C – D – E – F
      A Eólio        A – B – C – D – E – F – G
      B Lócrio      B – C – D – E – F – G – A

      Quanto à sequência de intervalos:

      T = Tom
      ST = Semitom

      Podemos identificar, através da tabela acima, as características principais dos modos. A classificação entre menor ou maior se dá pela tensão da terça no modo. Assinalamos abaixo as principais características dos modos:

      - Jônio: maior natural, 4ª e 5ª justas e sétima maior

      - Dórico: menor, com sexta maior

      - Frígio: menor, com segunda menor

      - Lídio – maior, com quarta aumentada

      -  Mixolídio – maior, com sétima menor

      - Eólio: menor natural, 4ª e 5ª justas e sétima menor

      - Lócrio: apesar da terça menor, não é possível classificá-lo dessa forma, pois possui a 5ª diminuta tensionando a tríade. Este modo possui muito pouca aplicação prática.

      Vista a disposição dos intervalos dos modos, trataremos das suas relações com a harmonia no próximo item.

      b)      Harmonia

      A grande questão que envolve a aplicação dos modos gregos é a harmônica. Afinal, uma linha unicamente melódica não tem, sozinha, a tensão necessária para deixar caracterizados os intervalos característicos de cada modo. Em determinados acordes, como nos maiores com sétima menor (trítono), a opção de modo a se utilizar está clara, pois o único modo que tem essa configuração é o mixolídio.

      De outra sorte, se tivermos um acorde maior com sétima maior, há duas opções de modos: jônio e lídio. Assim, por exemplo, caso tenhamos uma harmonia com C7M, podemos tanto encará-lo como C Jônio ou C Lídio (notas da escala maior natural de F, com a tônica no C).

      Para uma melhor compreensão das escolhas, vale abordar também o assunto “notas a evitar”, conhecidas como “avoid notes”. A elas é dada essa nomenclatura em razão grande tensão que esses intervalos geram em relação às notas da tríade. Por exemplo, sobre uma escala jônica, o intervalo de 4ª gera uma grande tensão em relação à terça do acorde (intervalo de b9), motivo pelo qual se deve evitar repousar sobre essa nota.

      Por essa razão, especialmente em Vamps – que consistem em progressões sobre um mesmo acorde – costumamos utilizar o modo dórico sobre acordes m7 e lídio sobre acordes M7, posto que nestes modos, em tese, não há notas a evitar, pois seus intervalos não geram grande tensão em relação à tríade.

      Obviamente, quanto mais tensões os acordes apresentam, menos liberdade terá o improvisador na escola do modo. Dessa maneira, um acorde C7M(#4) sempre será Lídio, uma vez que apresenta os intervalos característicos do modo; da mesma forma, um Dm6 sempre será dórico e assim sucessivamente.

      Em estilos como o Rock, que apresentam poucas tensões nos acordes, a escolha do modo dentro de uma improvisação se torna muito mais livre. Dentro de um C5, que consiste em tônica e quinta (C e G), há um grande leque de opções, pois, se enfatizada: (a) a terça menor e a sexta maior dentro de um solo, esse acorde será dórico; (b) a segunda menor, o acorde será frígio; (c) a quarta aumenta e a sétima maior, o acorde será lídio, entre outros.

      III – Conclusão

      Em vista do exposto, podemos concluir que os modos gregos podem ser encarados como uma forma particular de visualização a harmonia; tema cujo conhecimento é fundamental para o entendimento da concepção modal.

      Tenho visto muitos professores de guitarra convencionando a nomenclatura dos modos aos desenhos das escalas. Acredito que essa classificação é bastante temerária e tende a tratar de forma muito rasa um assunto que possui grande amplitude.

      Assim, recomendo a todos que se interessam pelo assunto, mais do que a leitura de estudos teóricos, a audição de álbuns que se utilizam desse conceito, bem como a pratica de instrumento sobre esses standards. Minhas sugestões são: “A Kind Of Blue” do Miles Davis, “Impressions”  e “My Favorite Things” do John Coltrane e “Maiden Voyage” do Herbie Hancock. Esse exercício, com certeza, irá facilitar em muito a compreensão dos assuntos aqui abordados. Afinal, o aprendizado da música se dá, principalmente, pelo ouvir e pela prática.

      Bons estudos e até a próxima!

      Danilo Martins Fontes.
      http://soundcloud.com/danilofontes

      Danilo Fontes Tenha aulas particulares São Paulo / SP | 7 músicas | 90 batalhas | 1 lição
      Formado em guitarra, com especialidade em fusão, pelo IG&T (Instituto de Guitarra & Tecnologia), ...leia mais »
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