Olá pessoal do Guitar Battle.
A partir dessa aula vamos falar sobre um assunto fundamental para o domínio da linguagem harmônica, do entendimento da sistemática na improvisação tonal e do processo de composição musical que é Campo Harmônico. Veremos o que é, quais são os tipos e como aplicá-los.
Para o entendimento pleno dessa aula recomendo ler os textos:
Intervalos – Parte 1 – Parte 2 – Parte 3
Formação de Acordes e Cifragem - Parte 1
Montagem de Acordes – Tétrade – Parte 1 – Parte 2 – Parte 3
Definição: Quando falamos de Campo estamos nos referindo a abrangência e limitação, pensamos em agrupamento, espaço e afinidade. Usamos esse termo em diversas situações:
Campo de Futebol -> É a área onde jogamos bola, o espaço que confina os jogadores durante a partida. Se a bola sair desse campo o jogo é pausado, é cobrada a reentrada da bola (lateral) e dá-se continuidade.
Campo Gravitacional -> É toda a região que sofre a ação da gravidade. O campo gravitacional da Terra vai muito além do nosso chão ou céu, ele segura a lua em posição, e todo esse espaço que responde a ação do nosso planeta faz parte do Campo Gravitacional dele.
Campo Eletromagnético-> É a área em torno de um objeto que sofre a influência eletromagnética desse mesmo objeto.
Campo Harmônico de uma escala-> É tudo que está relacionado com essa escala, de notas e intervalos a acordes, de arpejos a outras escalas. De forma resumida é tudo que podemos fazer com as notas de uma determinada escala.
Então o conceito de Campo Harmônico vai muito além da simples formação de acordes de tríade e tétrade usando as notas de uma escala. Podemos incluir as notas de tensão, o leque completo de acordes, entre eles os suspensos, com baixo trocado e alterados, os intervalos e até mesmo outras escalas (normalmente pentatônicas).
Quais são? Potencialmente qualquer escala tem o seu campo harmônico mas alguns se popularizaram mais, como o Campo Harmônico Maior, Menor Natural, Menor Harmônico, Menor Melódico, Diminuto (e DomDim), Hexafônico (Tons Inteiros) e Aumentado. Podemos ter ainda os campos das pentatônicas, escalas Be Bop (8 notas), exóticas ou qualquer outra escala.
No nosso sistema de música ocidental a escala cromática é a mais completa, possui as 12 notas, então seu campo harmônico também é o mais completo com todos os acordes e escalas.
Pra que serve? É através da dedução do campo harmônico de uma escala que sabemos quais são os acordes e tensões compatíveis e que conseguimos definir todas as opções melódicas para um determinado acorde. Vou colocar de forma simples: se um acorde faz parte de um campo harmônico, você poderá usar a escala para solar em cima desse acorde. Como um mesmo acorde pode aparecer em diferentes campos harmônicos teremos diferentes opções de escala para tocar.
Exemplo:
Com a escala de Dó maior consigo formar o acorde de C7M, então posso usar essa escala para solar em cima do acorde.
Com a escala de Sol maior consigo formar o acorde de C7M, então posso usar essa escala para solar em cima do acorde.
Com a escala de Mi menor harmônica consigo formar o acorde de C7M, então posso usar essa escala para solar em cima do acorde.
Rapidamente encontramos 3 opções de escala para usar em cima do acorde de C7M e cada uma irá proporcionar uma sonoridade diferente.
Também é através dos Campos Harmônicos que conseguimos entender a relação de proximidade entre acordes de uma harmonia firmando assim o conceito tonal. É através dessas compatibilidades que fazemos música e dominar o conceito de Campo Harmônico é mais um passo para dominar o conceito musical.
Vamos primeiro definir o que faz parte de um campo harmônico…
Escala de Dó Maior: Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si
São essas as notas que temos disponíveis para construir as tríades, pois são elas que definem o campo harmônico de Dó maior. Qualquer outra nota que não faz parte da escala de Dó maior por consequência, também não fará parte do Campo Harmônico de Dó maior.
Primeira nota (Grau 1) da escala de Dó Maior-> Nota Dó, será a tônica do primeiro acorde de tríade.
Para completar a tríade precisamos ainda da terça e da quinta que serão:
Então a Tríade de Dó terá as notas Dó, Mi e Sol. Fazendo a análise da distância de tons entre as notas:
2 tons + 1 ½ tom = Tríade maior, então a primeira tríade do Campo Harmônico de Dó maior será a Tríade de C.
Segunda nota (Grau 2) da escala de Dó Maior-> Nota Ré, será a tônica do segundo acorde de tríade.
Definindo a terça e a quinta:
A Tríade de Ré terá as notas Ré, Fá e Lá. Fazendo a análise da distância de tons entre as notas:
1 ½ tom + 2 tons = Tríade menor, então a segunda tríade do Campo Harmônico de Dó maior será a Tríade de Dm.
Terceira nota (Grau 3) da escala de Dó Maior-> Nota Mi, será a tônica do terceiro acorde de tríade.
Definindo a terça e a quinta:
A Tríade de Mi terá as notas Mi, Sol e Si. Fazendo a análise da distância de tons entre as notas:
1 ½ tom + 2 tons = Tríade menor, então a terceira tríade do Campo Harmônico de Dó maior será a Tríade de Em.
Quarta nota (Grau 4) da escala de Dó Maior-> Nota Fá, será a tônica do quarto acorde de tríade.
Definindo a terça e a quinta:
Então a Tríade de Fá terá as notas Fá, Lá e Dó. Fazendo a análise da distância de tons entre as notas:
2 tons + 1 ½ tom = Tríade maior, então a quarta tríade do Campo Harmônico de Dó maior será a Tríade de F.
Quinta nota (Grau 5) da escala de Dó Maior-> Nota Sol, será a tônica do quinto acorde de tríade.
Definindo a terça e a quinta:
Então a Tríade de Sol terá as notas Sol, Si e Ré. Fazendo a análise da distância de tons entre as notas:
2 tons + 1 ½ tom = Tríade maior, então a quinta tríade do Campo Harmônico de Dó maior será a Tríade de G.
Sexta nota (Grau 6) da escala de Dó Maior-> Nota Lá, será a tônica do sexto acorde de tríade.
Definindo a terça e a quinta:
A Tríade de Lá terá as notas Lá, Dó e Mi. Fazendo a análise da distância de tons entre as notas:
1 ½ tom + 2 tons = Tríade menor, então a sexta tríade do Campo Harmônico de Dó maior será a Tríade de Am.
Sétima nota (Grau 7) da escala de Dó Maior-> Nota Si, será a tônica do sétimo acorde de tríade.
Definindo a terça e a quinta:
A Tríade de Si terá as notas Si, Ré e Fá. Fazendo a análise da distância de tons entre as notas:
1 ½ tom + 1 ½ tom = Tríade diminuta, então a sétima tríade do Campo Harmônico de Dó maior será a Tríade de Bm(b5).
Tabela com o resumo da formação das tríades:
Observe as sétimas na tabela abaixo:
Temos na prática 3 tipos de sétima possíveis…
Sétima maior-> Fica ½ tom abaixo da tônica. Representada na cifra por 7M.
Sétima menor-> Fica 1 tom abaixo da tônica. Representada na cifra por 7.
Sétima diminuta-> Fica 1 ½ tom abaixo da tônica. Só existe no acorde diminuto (To).
Combinando as tríades com as respectivas sétimas:
Temos então as seguintes Tétrades:
Tensões disponíveis por grau da escala:
Primeiro grau (Grau 1)-> É representado pela nota Dó, tríade de C e tétrade de C7M.
Tensões:
Segundo grau (Grau 2)-> É representado pela nota Ré, tríade de Dm e tétrade de Dm7.
Tensões:
Terceiro grau (Grau 3)-> É representado pela nota Mi, tríade de Em e tétrade de Em7.
Tensões:
Quarto grau (Grau 4)-> É representado pela nota Fá, tríade de F e tétrade de F7M.
Tensões:
Quinto grau (Grau 5)-> É representado pela nota Sol, tríade de G e tétrade de G7.
Tensões:
Sexto grau (Grau 6)-> É representado pela nota Lá, tríade de Am e tétrade de Am7.
Tensões:
Sétimo grau (Grau 7)-> É representado pela nota Si, tríade de Bm(b5) e tétrade de Bm7(b5).
Tensões:
Abaixo a tabela com o resumo das tensões por grau do campo harmônico:
Acordes Suspensos: São aqueles que possuem na sua formação a segunda maior (2) ou a quarta justa (4) no lugar da terça do acorde de tríade ou tétrade. Analisando a tabela acima vemos que…
Temos então as seguintes possibilidade de acordes suspensos:
Acordes de sexta maior (6): Podem ser vistos de forma enarmônica, por exemplo…
C6 (C E G A) tem as mesmas notas de Am7 (A C E G).
Dm6 (D F A B) tem as mesmas notas de Bm7(b5) (B D F A).
Em não aceita a sexta maior, somente a sexta menor (b6-> nota Dó). Quando esse acorde recebe a sexta menor acaba sendo analisado como o primeiro grau invertido (C/E).
F6 (F A C D) tem as mesmas notas de Dm7 (D F A C).
G6 (G B D E) tem as mesmas notas de Em7 (E G B D).
Am não aceita a sexta maior, somente a sexta menor (b6-> nota Fá). Quando esse acorde recebe a sexta menor acaba sendo analisado como o quarto grau invertido (F/A).
Bm(b5) não aceita a sexta maior, somente a sexta menor (b6-> nota Sol). Quando esse acorde recebe a sexta menor acaba sendo analisado como o quinto grau invertido (G/B).
Acordes de Baixo Trocado: É quando a nota do baixo é diferente da tônica do acorde. Qualquer nota da escala de Dó maior pode servir como baixo. Teremos as seguintes combinações:
Grau 1-> C | C/D | C/E | C/F | C/G | C/A | C/B
Grau 2-> Dm | Dm/E | Dm/F | Dm/G | Dm/A | Dm/B | Dm/C
Grau 3-> Em | Em/F | Em/G | Em/A | Em/B | Em/C | Em/D
E assim por diante…
O baixo também pode ser trocado em qualquer variação do acorde base, por exemplo:
Dm/F | Dm7/A | D4/E | Dm7(9)/E etc…
O emprego das tensões disponíveis no campo harmônico: Usam o princípio da tensão compatível, ou seja, precisam estar 1 tom acima das notas do acorde para serem utilizadas.
Grau 1-> Acorde de C (C E G) ou C7M (C E G B)-> acorde Jônico.
1 tom acima da tônica (Dó) será a nota Ré, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (9). Exemplos: C9 | C7M(9)
1 tom acima da terça (Mi) será a nota Fá#, ausente na escala de Dó maior, tensão não utilizada. Para empregar a nota Fá no acorde de primeiro grau deve-se retirar a terça do acorde e indicar isso na cifra como uma quarta – C4. A décima primeira (11) não é utilizada pois gera conflito com a terça do acorde e um trítono com a sétima confundindo a sua função harmônica.
1 tom acima da quinta (Sol) será a nota Lá, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (13). Quando o acorde não tiver sétima escreve-se na cifra como uma sexta (C6). Quando a sétima existir essa nota gera tensão e é escrita como uma décima terceira (13). Exemplos: C6 | C7M(13)
Grau 2-> Acorde de Dm (D F A) ou Dm7 (D F A C).
1 tom acima da tônica (Ré) será a nota Mi, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (9). Exemplos: Dm9 | Dm7(9)
1 tom acima da terça (Fá) será a nota Sol, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (11). Exemplos: Dm11 | Dm7(11)
1 tom acima da quinta (Lá) será a nota Si, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (13). Quando o acorde não tiver sétima escreve-se na cifra como uma sexta (Dm6-> acorde Dórico). Quando a sétima existir essa nota gera tensão e é escrita como uma décima terceira (13). Exemplo: Dm7(13)
Grau 3-> Acorde de Em (E G B) ou Em7 (E G B D).
1 tom acima da tônica (Mi) será a nota Fá#, ausente na escala de Dó maior, tensão não utilizada. O emprego da nota Fá (b9) normalmente se faz com a retirada da terça do acorde e a adição da quarta justa (acorde Frígio). Exemplo: E4(b9)
1 tom acima da terça (Sol) será a nota Lá, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (11). Exemplos: Em11 | Em7(11)
1 tom acima da quinta (Si) será a nota Dó#, ausente na escala de Dó maior, tensão não utilizada. A nota Dó (b6) quando usada somada a tríade de Em gera um acorde de primeiro grau invertido pois possui as mesmas notas. Em(b6) (E G B C) = C7M (C E G B).
Grau 4-> Acorde de F (F A C) ou F7M (F A C E).
1 tom acima da tônica (Fá) será a nota Sol, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (9). Exemplos: F9 | F7M(9)
1 tom acima da terça (Lá) será a nota Si, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (#11). Exemplo: F7M(#11)-> acorde Lídio.
1 tom acima da quinta (Dó) será a nota Ré, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (13). Exemplo: F7M(13)
Grau 5-> Acorde de G (G B D) ou G7 (G B D F)-> acorde Mixolídio.
1 tom acima da tônica (Sol) será a nota Lá, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (9). Exemplos: G9 | G7(9)
1 tom acima da terça (Si) será a nota Dó#, ausente na escala de Dó maior, tensão não utilizada. O emprego da quarta justa (Dó) junto com a terça do acorde (Si) pode confundir a resolução do trítono enfraquecendo a função harmônica e por consequência a cadência. O uso da nota Dó deverá na maioria das vezes aparecer como suspensão (4). Exemplo: G4
1 tom acima da quinta (Ré) será a nota Mi, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (13). Exemplo: G7(13)
Grau 6-> Acorde de Am (A C E) ou Am7 (A C E G)-> acorde Aeólio.
1 tom acima da tônica (Lá) será a nota Si, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (9). Exemplos: Am9 | Am7(9)
1 tom acima da terça (Dó) será a nota Ré, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (11). Exemplos: Am(11) | Am7(11)
1 tom acima da quinta (Mi) será a nota Fá#, ausente na escala de Dó maior, tensão não utilizada. A nota Fá (b6) quando usada somada a tríade de Am gera um acorde de quarto grau invertido pois possui as mesmas notas. Am(b6) (A C E F) = F7M (F A C E).
Grau 7-> Acorde de Bm(b5) (B D F) ou Bm7(b5) (B D F A)-> acorde Lócrio.
1 tom acima da Tônica (Si) será a nota Dó#, ausente na escala de Dó maior, tensão não utilizada. O uso da tensão b9 (nota Dó) é evitada pois confunde o trítono do acorde (entre as notas Si e Fá) enfraquecendo a função do acorde.
1 tom acima da terça (Ré) será a nota Mi, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (11). Exemplos: Bm(b5/11) | Bm7(b5/11)
1 tom acima da quinta (Fá) será a nota Sol, presente na escala de Dó maior, então essa tensão é utilizada (13). A presença dessa nota Sol transforma o acorde de Bm7(b5) (B D F A G) em acorde de quinto grau G7(9) (G B D F A).
Tabela com o resumo das tensões mais utilizadas:
Por consequência podemos utilizar qualquer uma das pentatônicas acima ao invés da escala de Dó maior. Observe porém que a utilização das pentas de Dm7, Dm6 e G7, que possuem na sua formação a quarta justa do tom (a nota Fá), deverão ser usadas com cautela em acordes tônicos (que não possuem a nota Fá na sua formação), pois o repouso nessa quarta poderá soar desiquilibrado.
Blue Note-> Pode ser adicionada livremente as pentatônicas pois sua utilização é um efeito de aproximação ou passagem cromática e sua análise dentro do campo harmônico é desconsiderada.
Abaixo a tabela com os arpejos mais utilizados do Campo Harmônico de Dó Maior:
Os arpejos com muitas notas de tensão tendem a se confundir com a própria escala do campo harmônico, por exemplo:
Dm7(9/11/13)-> Tem as notas Ré, Fá, Lá e Dó + tensões Mi (9), Sol (11) e Si (13). Somando as notas do tétrade com suas tensões temos a escala de Dó maior: Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si.
Relação entre os arpejos e os acordes:
Um arpejo não precisa conter as mesmas notas do acorde de base, muito pelo contrário, podem ser todas diferentes contando que a tensão seja compatível com o acorde. De forma geral pode-se usar a regra de “um tom acima” onde as notas de tensão estarão sempre um tom acima das notas do acorde. O acorde de sétima da dominante (G7 em Dó maior) aceita qualquer tensão com excessão da sétima maior. Temos então as seguintes relações e seus resultados:
Acordes de Tríade X Arpejos
As opções marcadas com o símbolo (x) não são usadas dentro do Campo Harmônico de Dó Maior. Muitas vezes são compatíveis mas entregam uma outra intenção modal, por isso são excluídas do campo.
Os arpejos com sexta foram excluídos pois podem ser vistos de forma enarmônica com os arpejos de tétrade. Alguns dos resultados da combinação dos arpejos do tipo T2 coincidem com os arpejos do tipo T4 pois na sua formação possuem as mesmas notas (exemplo: D2 = A4).
Acordes de Tétrade X Arpejos
Clique aqui para ler a continuação dessa aula – “Campo Harmônico Maior (Parte 2) – Visualização e Modos Gregos”
Por hoje é isso pessoal, não esqueçam de visitar o meu site.
E fiquem com um video do meu album DEEP:
Toco a muitos anos mas, nunca fiz aula. Creio que seja a hora de começar a estudar teoria musical. Obrigado por compartilhar seu conhecimento.
Do caralho esse site!!
Também curto Fred, um abração!
Ótimo Material, irei estudar cada linha dessa lição, valeu !!!!
Bom estudo e um abração!