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      Guitarra e Violão Contrabaixo

      Análise musical - "Blue Tone"

      Por: deniswarren | Categoria: Guitarra e Violão, Teoria 5096 exibições Dificuldade Avançado

      Olá, pessoal do Guitar Battle!

      Nessa aula, nós vamos entender de que forma é feita a análise musical de uma música. Para ilustrar esse processo, eu vou usar uma música do meu cd “DEEP”, um rock instrumental chamado “Blue Tone”.

      Ouça a música, na íntegra:

      O que é Análise Musical: consiste em explicar através da teoria musical, e harmonia, cada uma das partes de uma música, identificando a estrutura, o compasso e o rítmo, as escalas utilizadas, a relação entre cada camada do arranjo e o desenvolvimento das ideias.

      Análise e descrição: essa foi uma das últimas músicas compostas para o CD “DEEP”. Lembro de estar pensando que faltava um som numa onda mais rock ‘n roll, com um fraseado blues. Então escolhi o tom, A maior, que por si só já seria um desafio, já que esse tom é clichê no estilo.

      Comecei pelo primeiro riff (RIFF 1), usando um mix entre as 3 pentas de A: Am7, Am6 e A7. Usei o primeiro powerchord (A5) para definir o tom e o ligado entre Dó (terça menor) e Dó# (terça maior), para definir o estilo – o Blues usa bastante essa dualidade de terças. Depois fiz um ligado entre Lá e Fa#, para inserir o tempero da penta Am6. Para completar a intenção de mixolídio (A), inclui a nota característica Sol (sétima menor) no primeiro bend e no retorno.

      RIFF 1

      RIFF 1

      O solo fiz depois de compor a base, usando o mesmo mix de pentas e algumas pequenas variações. Começo com a terça (Dó#) do acorde definindo o tom maior e toco os double stops (notas juntas) com Chicken’ Picking. O uso do Dó# com o Fá# cria a sonoridade da Penta de F#m7 sem a nota Si. Todos os bends de 1/4 de tom ajudam a imitar o som desafinado dos blues antigos. Faço ainda o ligado típico entre Dó e Dó# e dobro a base em um uníssono duas oitavas acima.

      Depois a nota Si da penta de F#m7 aparece em uma troca de sonoridade com o trítono da penta de Am6 e termino a frase com os scoops de alavanca, criando o efeito de bottleneck (slide).

      A segunda vez é uma repetição da primeira com uma variação no final, onde uso ligados com corda solta, mesclando as pentas de Am7, Am6 e F#m7.

      Solo 1 do RIFF 1

      No próximo riff decidi usar um swing funkeado, para criar movimento e preparar a entrada da melodia tema.

      Separei o riff em 2 partes:

      Compasso 1: em 5/4, como forma de criar contraste com o compasso seguinte. Uso as pentas de Am7 e Am6, com notas sincopadas.

      Compasso 2: aqui que o contraste é criado, com o peso dos powerchords, com rítmo quadrado e compasso em 4/4.

      Dobro a guitarra com o wah-wah fazendo um groove de contraponto rítmico com a base, segurando apenas a nota Lá, alternando com mutes.

      RIFF 2

      RIFF 2

      Riff 3 – é a base por trás da melodia tema. Mantive o mesmo tom A, mas excluí a nota Dó#, criando assim uma sonoridade de A Dórico (A B C D E F# G). A harmonia essencialmente é A5 (sem terça), D, C e G. Na segunda vez coloco um acorde surpresa de Dm trazendo a nota Fá como novidade, criando uma intenção de aeólio ou empréstimo modal.

      RIFF 3

      RIFF 3

      Uso um artifício típico para chamar atenção para a melodia, que é o deslocamento da entrada fugindo do tempo forte, nesse caso, no contratempo após o tempo 1 do compasso 17. A escala que escolhi é a de A dórico (G maior), com alguns pequenos efeitos como o bend de ½ tom na terceira nota da frase, escapando da escala, e o cromatismo entre Lá e Si.

      Os double stops fazem apojatura para o intervalo de terça maior criando a sensação de satisfação melódica.

      Finalizo a frase enfatizando a nota Fá, que é a nota de novidade da harmonia (penúltimo bend).

      Solo do RIFF 3

      O próximo riff criei pra ser um diálogo rítmico: pergunta X resposta. O tom é C maior, mas a harmonia começa no subdominante Fá, típico de bridges preparando refrão.

      O turnaround do final usa os acordes de F, C/E, C e finaliza com o subdominante Dm, que chama o refrão. Normalmente quando eu improviso nessa parte, eu uso as pentas de Am7 e Em7, que não possuem a nota Fá, criando sensação ambígua – polimodalidade.

      RIFF 4

      RIFF 4

      Essa melodia sobrepõe o contraponto da base e funciona como uma terceira voz. Sua entrada é tardia no compasso, depois de 2 tempos, mas estratégica para dar espaço ao contraponto. Termina de forma tonal dobrando as tônicas dos acordes. Esse bridge não caminha para o refrão nessa primeira vez, há um retorno ao riff inicial da música.

      Solo do RIFF 4

      Retorno ao riff 1 – esse solo é uma variação da ideia apresentada pelo primeiro solo da música. Usa as mesmas pentatônicas (Am7, Am6, A7), o mesmo timbre de guitarra e chicken’ picking com double stops. Mas para inserir uma sensação modal diferente, inclui as pentas de Re (Dm7, Dm6 e D7), trazendo a dissonância da 6a. menor (Fá). Termino num arpejo de D7, criando tensão e expectativa para a parte seguinte.

      Solo 2 do RIFF 1

      Esse próximo solo tem aspecto livre, construção tonal e suas pausas coincidem com os acentos da base criando unidade. O primeiro bend (duplo), uso apenas um dedo da mão esquerda, sobrepondo as cordas e levantando-as com o mesmo movimento. Gosto também da tensão de trítono criada entre as notas Fá# (sexta da penta de Am6) com Dó (terça menor), no segundo compasso. Enfatizo isso fazendo um bend de 1/4 de tom.

      Nas duas primeiras viradas da harmonia evito preencher o espaço nas trocas do compasso de 5 para o de 4. Na terceira vez faço o contrário, sincopando a frase até a conclusão na cabeça do tempo 1 do compasso 44.

      Solo 1 do RIFF 2

      RIFF 5

      RIFF 5

      RIFF 5 – Refrão – como forma de destacar o refrão fiz uma modulação para a relativa maior, Dó maior. Começo e termino o riff no acorde tônico de primeiro grau (repouso), alternando com os acordes subdominantes de Dm e F (tensão intermediária).

      T  SD  |  SD  T

      C  Dm    F    C

      Criei um vínculo melódico como forma de unir as partes do riff:

      Melodia 1 -> A E F

      Melodia 2 -> E F G

      Melodia do Refrão

      Solo do RIFF 5

      Melodia do refrão – Tonal em Do maior, dividida em 4 partes:

      • 1 – exposição do tema
      • 2 – repetição do tema com a modificação do final
      • 3 – transposição do tema oitava acima
      • 4 – resposta ao tema

      Na resposta uso um bend ornamental de ½ tom, atingindo uma nota Bb, criando a sensação de C Mixolídio.

      RIFF 6

      RIFF 6

      Esse riff alterna as pentas de A com a pentas de D, funciona como uma passagem modulatória. Enquanto a primeira parte da música gira em torno da tônica La, os riffs 6 e 7 preparam o riff 8 (D Dórico).

      RIFF 7

      RIFF 7

      Esse riff gira em torno do acorde de A (dominante para D) e do acorde de G (subdominante para D). A síncopa dos primeiros powerchords contrasta com o acento forte da nota Sol no último tempo do compasso. O mute cria swing e consolida o arranjo da guitarra com a banda.

      FILL - uso um shape simétrico. As notas de entrada e saída são as mesmas, Ré, tônica do próximo riff. O interessante desse formato simétrico é a transição de sonoridade, como na mudança entre as pentas de Lá para as pentas de Ré.

      FILL do RIFF 7

      RIFF 8

      Apesar de escrito em 11 esse riff pode ser visto com um 7/8 + 7/8 + 4/4. Separei os acordes com mutes, alongando o tempo e trazendo a sensação de arrastado, junto com a marcação no contratempo do bumbo e baixo. Na entrada da melodia essa marcação inverte, trazendo movimento.

      O primeiro ligado expôe a terça menor e o último acorde dá a sensação modal, trazendo a nota Si e afirmando o dórico.

      RIFF 8

      Melodia do riff 8 – construída em D dórico sem o uso da nota característica Si. Fazendo isso permito que a harmonia justifique a melodia criando elo. Da mesma forma que as pausas da harmonia são preenchidas com as notas da melodia, a intenção modal da melodia vem do acorde G da harmonia.

      Solo do RIFF 8

      Dobras de guitarra no último refrão – essas melodias de dobra já existiam no arranjo de teclado do refrão. Coloquei na guitarra como forma de enfatizar e aumentar a massa sonora do final.

      Overdub do final

       

      Backing track da música Blue Tone:

      Clique aqui para fazer download da PARTITURA DA BASE

      Clique aqui para fazer download da PARTITURA DO SOLO

      Ficha Técnica

      • Denis Warren – Guitarras e Teclado
      • Marcos Feminella – Bateria
      • Andrey Roberto da Silva – Baixo
      • Alexei Leão (AML Estúdio) – Produção, gravação, mixagem e masterização.

      Equipamento

      Guitarra Di Castelli’s:

      • Corpo em mogno
      • Braço em marfim e jacarandá, 24 casas, escalopada entre 21-24
      • Traste extra jumbo
      • Ferragens Gotoh
      • Ponte Floyd Rose Gotoh
      • Captadores Seymour Duncan Tb4 (ponte), Sh4 (braço) e Di Marzio Hs3 (meio)
      • Cordas Ernie Ball 09
      • Chave com 5 posições
      • Volume 500k linear
      • Chave humbucker – single coil
      • Afinação 440 hz em E

      Uso as guitarras da Di Castelli’s, desde 1999. O mogno do corpo oferece um som aberto e definido, com bastante médios. Os trastes extra jumbo permitem velocidade e facilitam técnicas, como o tapping, e a ponte Gotoh promove uma estabilidade fantástica na afinação. Optei por captadores Jazz-Blues (Tb4 e Sh4), pois saturam sem exageros. A chave humbucker – single coil uso para alternar o estado do captador. Usei a configuração single para os solos de timbre aberto com fraseado blues.

      Amplificadores:

      Base: Orange Tiny Terror 15W + Caixa 4 X 12 Celestion Vintage 30

      Optei por um cubo de baixa potência, pela fidelidade ao timbre puro que ele oferece. Os agudos são bonitos e os harmônicos, limpos. Como muitos dos meus riffs usam acordes abertos, com intervalos variados, precisei de um amplificador que pudesse distorcer sem sujar e sem perder peso. O Orange foi perfeito.

      Solos: Peavey Triple X 120W + Caixa 4 X 12 Celestion Vintage 30

      Nesse cabeçote optei por usar pouca distorção na pré-amplificação e saturar as válvulas de saída, colocando o volume no máximo. Isso trouxe um drive bastante harmonioso, com sustain e brilho.

      Cabo – Santo Angelo Jazz com bitola em ouro 18k

      Microfone – Shure Sm-57 – Posicionado de frente ao falante, grudado a grade.

      Gravação – Mesa Yamaha O196v, Cubase + Plugins

      Fiquem com um vídeo de outra música do cd “DEEP”

      E não esqueçam de visitar o meu site.

      Abraços e até a próxima!

      deniswarren Florianópolis / SC | 20 músicas | 1092 batalhas | 26 lições
      Toco guitarra e violão a 25 anos e atuo profissionalmente a 20 anos. Toquei em bandas de vários ...leia mais »
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