Olá pessoal do Guitar Battle!
Nessa aula vamos entender os diferentes tipos de harmônicos na guitarra, qual a matemática do braço e como executá-los. Além disso vamos conhecer as diferentes formas de aplicação, tanto no contexto melódico como harmônico.
Harmônicos na guitarra
Introdução: ao conseguir dominar os harmônicos na guitarra, nós aumentamos de forma considerável a tessitura do instrumento tocando notas agudas, que vão além das casas do braço. Além disso conseguimos inserir no fraseado ou nos riffs de base efeitos singulares, trazendo expressão e individualidade.
Nessa aula vamos entender o que é harmônico, quais os tipos, e onde estão localizados matematicamente no braço da guitarra. Além disso veremos a aplicação direta dos diferentes harmônicos e a sua relação com o meio.
O que é som? Quando um objeto vibra ele “empurra” as moléculas de ar em torno dele, e essas por consequência empurram as suas moléculas vizinhas. Essa propagação da vibração por um meio material elástico (gás, líquido ou sólido) chamamos de som. Ao atingir o nosso ouvido esse vibra por consonância e essa manifestação é traduzida e interpretada pelo nosso cérebro, é quando escutamos.
Frequência sonora: é a velocidade/segundo, medida em Hertz (Hz), da vibração de um objeto. Se um objeto vibra 20 vezes dentro do espaço de 1 segundo, dizemos que sua frequência é de 20Hz. Se ele vibra 500 vezes em 1 segundo sua frequência é de 500Hz. Nosso ouvido humano ideal em condições acústicas perfeitas pode escutar entre 20 até 20.000 vibrações por segundo, ou seja, de 20Hz (grave) até 20KHz (agudo). Abaixo disso chamamos de Infra-som e acima de Ultra-som.
A nota Lá que usamos em música como referência para afinar o instrumento vibra 440 vezes em 1 segundo (440HZ). Toda vez que essa frequência dobra ou cai pela metade a oitava sobe ou desce, então:
Lá 440Hz -> dobrando de velocidade -> Lá 880Hz (1 oitava acima)
Lá 440Hz -> dividindo a velocidade -> Lá 220Hz (1 oitava abaixo)
As frequências das cordas da guitarra:
Então, usando a quinta corda da guitarra como exemplo temos as seguinte situação:
Amplitude sonora: é a quantidade de energia (pressão) por unidade de tempo, por consequência quanto maior a amplitude, maior a intensidade sonora (medida em decibéis). O som dobra a cada acrescimo de 6 decibéis, portanto 18db é quatro vezes maior que 6db e não três. Sons acima de 85db podem, se formos expostos por longo período de tempo, provocar o comprometimento do nosso sistema auditivo. Em torno de 130db é o nosso limite de dor, e acima disso a perda total da audição é inevitável.
Séria harmônica: quando uma corda vibra, ela irá vibrar em toda a sua extensão (Fig. 1), e essa vibração produz som. Ao mesmo tempo essa corda vibra em 2 partes (Fig. 2) emitindo um som com o dobro da frequência da corda solta, ou seja, oitava acima. Ela também vibra em 3, 4, 5, 6 (Fig. 3-6), infinitas partes, e todas essas vibrações emitem sons com frequências diferentes, cada vez mais agudas. Essas notas, inclusive a fundamental, chamamos de harmônicos. Observe o desenho abaixo:
Quando observamos uma corda vibrar é difícil perceber essas outras vibrações pois elas se confundem numa massa visual como no desenho abaixo:
A sequência de harmônicos gerada pela vibração da corda em infinitas partes, para cada corda, pode ser vista na tabela abaixo:
H – Harmônicos de 1 a 16 (limite humano)
Visualizando e ouvindo os harmônicos: É possível observar e ouvir separadamente cada vibração da corda usando o recurso do harmônico natural. Faça o seguinte processo…
1 – Toque a corda solta e observe que ela vibra em toda a sua extensão. Próximos aos pontos onde ela é fixada (ponte e capotraste) a vibração é quase imperceptível e exatamente no meio da corda a vibração tem sua maior amplitude, idêntico ao desenho acima (Fig. 1). O som é o fundamental, também chamado de primeiro harmônico.
2 – Encoste, sem pressionar, o dedo da mão esquerda em cima do traste 12 e palhete. Observe que nesse ponto não é possível observar a vibração da corda, mas percebe-se ela dividida em 2 partes (Fig. 2). O som é oitava acima, do segundo harmônico.
3 – Encoste, sem pressionar, o dedo da mão esquerda em cima do traste 7 e palhete. Observe que nesse ponto não é possível observar a vibração da corda, mas percebe-se ela dividida em 3 partes (Fig. 3). O som é uma oitava + uma quinta acima da corda solta, o terceiro harmônico.
4 – Encoste, sem pressionar, o dedo da mão esquerda em cima do traste 5 e palhete. Observe que nesse ponto não é possível observar a vibração da corda, mas percebe-se ela dividida em 4 partes (Fig. 4). O som é 2 oitavas acima da corda solta, o quarto harmônico.
5 – Encoste, sem pressionar, o dedo da mão esquerda 1 milímetro antes do traste 4 (3.9) e palhete. Observe que nesse ponto não é possível observar a vibração da corda, mas percebe-se ela dividida em 5 partes (Fig. 5). O som é 2 oitavas + uma terça maior acima da corda solta, o quinto harmônico.
Na prática podemos continuar fazendo esse mesmo processo, dividindo a corda em 6, 7, 8, 9, etc…, partes e vamos obter sons cada vez mais agudos com volume cada vez mais baixo. Basta continuar palhetando a corda e movendo o dedo pra esquerda no braço do instrumento, em direção ao capotraste. Você vai perceber que os harmônicos da casa 1 e 2 são bastante difíceis de serem escutados pois eles são muito agudos.
Posição dos harmônicos no braço da guitarra:
Como a nota musical se mantém com a multiplicação ou divisão da frequência em partes inteiras, temos a correspondência dos harmônicos nessas regiões do braço da guitarra…
1, ½, ¼, 1/8, 3/8, 5/8, ¾, 1/16 -> Tônica
1/3, 2/3, 1/6, 5/6 -> Quinta Justa
1/5, 2/5, 3/5, 4/5, 1/10, 3/10, 7/10, 9/10 -> Terça Maior
1/7, 2/7, 3/7, 4/7, 5/7, 6/7 -> Sétima Menor
1/9, 2/9, 4/9, 5/9, 7/9, 8/9 -> Segunda Maior
Corda 6 – E B E G# B D E (formam o arpejo de E7).
Corda 5 – A E A C# E G A (formam o arpejo de A7).
Corda 4 – D A D F# A C D (formam o arpejo de D7).
Corda 3 – G D G B D F G (formam o arpejo de G7).
Corda 2 – B F# B D# F# A B (formam o arpejo de B7).
Corda 1 – E B E G# B D E (formam o arpejo de E7).
No gráfico acima você encontra a posição em fração do comprimento da corda ou a porcentagem da distância do capotraste até a ponte da guitarra.
Volume dos Harmônicos: o primeiro harmônico da série harmônica (corda solta) é o que possui maior amplitude sonora. O volume vai reduzindo a cada harmônico que segue a série. Na prática escutamos bem, para uma nota grave, os primeiros 5 harmônicos (nosso limite máximo é de 16 harmônicos). Numa nota aguda escutamos poucos harmônicos pois a maioria deles se encontram acima da capacidade auditiva humana.
Observe a coluna de volume na tabela acima. A corda solta é representada pelo número 1, ou seja, 100% do volume. A partir dela o volume decresce, o traste 12 tem valor 2, os trastes 7 e 19, valor 3 e assim por diante.
Sequência de maior volume (1) -> menor volume (16):
Corda solta -> Casa 12 -> 7 e 19 -> 5 e 24 -> 3.9, 27.9, 8.8, 15.9 -> 3.2, 31 -> 2.7, 33.7, 5.8, 21.7, 9.7, 14.7 -> etc…
Tipos de harmônico: existem na guitarra essencialmente 4 tipos de harmônicos.
1 – Harmônico natural (Natural Harmonic): é produzido encostando o dedo da mão esquerda levemente na corda. Os pontos de maior efeito são aqueles do início da série harmônica -> casas 12, 7, 19, 5, 24, 3.9. (Imagem 1)
2 – Harmônico artificial (Artificial/Pinch Harmonic): é produzido palhetando e encostando simultaneamente a unha ou pele do dedo da mão direita na corda (Imagem 2). Dessa forma mudamos a qualidade de vibração da corda evitando que a nota fundamental soe.
Outra forma é palhetando (Imagem 3) e depois encostando o polegar da mão direita na corda (Imagem 4).
Mudando a posição da palhetada muda o harmônico. As posições mais eficientes são as múltiplas em distância, começando por 12 casas acima.
Exemplo: se você está pressionando a casa 5 (1/4 do comprimento da corda) com o dedo da mão esquerda, palhete nas posições 2/4 (casa 12) e 3/4 (casa 24). Experimente também nos outros múltiplos como 3/8 (casa 8.1), 5/8 (casa 17) e 7/8 (casa 36 – 87%) ou ainda 13/16 (casa 29 – 81%), 15/16 (casa 48 – 93%).
3 – Tapping harmonic: é produzido com o martelamento do dedo da mão direita (tapping) 12 casas acima da nota que está sendo pressionada com a mão esquerda.
Exemplo: Se a mão esquerda está pressionando a casa 5, faz-se o tapping no traste da casa 5+12 = 17.
Outra técnica é bastante usada no violão clássico e consiste em usar o indicador e o dedo anular da mão direita para realizar o tapping da mesma forma que se articula o harmônico natural. Encosta-se o indicador levemente na corda, 12 casas acima da nota da mão esquerda e “palheta-se” com o dedo anular (Imagem 5).
4 – Semi-harmônico (Semi Harmonic): na execução do harmônico artificial encosta-se o dedo da mão direita muito suavemente, dessa forma a nota fundamental continua soando junto com o harmônico. A sensação é de estar escutando duas notas juntas.
Exemplos em Audio com músicas do meu cd DEEP:
1 – Início da música Autumn Breeze com harmônicos naturais (guitarra limpa), em todo o trecho.
2 – Música One Last Day, harmônicos naturais na terceira corda (casas 2, 3, 4 e 5). Note que o pitch das notas vai caindo já que o movimento da mão esquerda vai da casa 2 para a 5, aumentando a porcentagem da corda (11% – 25%, ou seja, 1/9 para 1/4). Mais pra frente a finalização de uma frase com harmônico artificial.
3 – Música When The Past Comes Back, onde faço os acordes da harmonia com tapping harmonic. No exemplo, primeiro a versão original, depois sem as 2 guitarras solo que fazem os fades de volume.
4 – Solo lento em The Mental Storm, onde finalizo várias frases com Semi-harmônico. No final do solo um harmônico natural controlado com alavanca.
Para tablaturas das músicas usadas nos exemplos clique aqui
Harmônicos X acordes: podemos obter diferentes acordes quando executamos mais de um harmônico por vez. Observe na tabela abaixo, por exemplo, os harmônicos da Tônica (Fundamental) -> Corda solta, casa 12, casas 5 e 24, casas 2.3, 8.1, 17, 36. Ao tocar a primeira corda (E) com a segunda corda (B) formamos o powerchord de E5. Tocando as cordas 1,2 e 3 (E B G) formamos a tríade de Em e incluindo a quarta corda (D) formamos o tétrade de Em7, e assim por diante, observe a tabela abaixo:
Uma forma bonita de usar os acordes em harmônicos é através da sobreposição de acordes no arranjo com 2 guitarras, onde os harmônicos funcionam como complemento do acorde base ou como notas de tensão.
Exemplo 1:
Acorde de C (C E G)
Tocando os harmônicos tônicos das cordas 1 e 2 (E B) -> C (C E G) + notas E e B = C7M
Tocando os harmônicos tônicos das cordas 1, 2 e 3 (E B G) -> C (C E G) + notas E, B e G = C7M
Tocando os harmônicos tônicos das cordas 1, 2, 3 e 4 (E B G D) -> C (C E G) + notas E, B, G e D = C7M(9)
Exemplo 2:
Acorde de F (F A C)
Tocando os harmônicos tônicos das cordas 1 e 2 (E B) -> F (F A C)+ notas E e B = F7M(#11)
Tocando os harmônicos tônicos das cordas 1, 2 e 3 (E B G) -> F (F A C)+ notas E, B e G = F7M(9/#11)
Exemplo 3:
Powerchord de C5 (C G)
Tocando os harmônicos tônicos das cordas 1 e 2 (E B) -> C5 (C G) + notas E e B = C7M
Tocando os harmônicos tônicos das cordas 1, 2 e 3 (E B G) -> C5 (C G) + notas E, B e G = C7M
Tocando os harmônicos tônicos das cordas 1, 2, 3 e 4 (E B G D) -> C5 (C G) + notas E, B, G e D = C7M(9)
Harmônicos X timbre: o timbre influencia diretamente a qualidade e força dos harmônicos na guitarra. Equalizações mais agudas tendem a evidenciar um número maior de harmônicos da série e distorções mais carregadas trazem força e corpo. Como o timbre também está relacionado ao equipamento, um hardware com qualidade e com boa manutenção tende a oferecer mais.
Cabos de baixa qualidade tendem a comprimir o som e cortar as frequências mais agudas, comprometendo os harmônicos altos da série harmônica. Captadores ativos por sua vez trazem corpo e brilho aumentando a gama de harmônicos escutáveis.
Os amplificadores valvulados evidenciam os harmônicos pares (são na maioria da nota fundamental), trazendo uma distorção mais limpa e definida.
Harmônicos X acústica: uma sala de audição ou performance bem equilibrada é aquela que tem suas proporções acústicas adequadas, sem grandes problemas com: ondas estacionárias, excesso de reflexões, flutter echo, entre outras coisas. Infelizmente, na maioria da vezes estamos obrigados a ensaiar e tocar em ambientes grosseiros e saber se adaptar a situação é vital para um bom desempenho.
Os harmônicos agudos (terça e sétima, segundas) são geralmente os mais sensíveis da série, então teste a acústica do ambiente tocando esses harmônicos e reposicione o amplificador (esquerda e direita, frente e trás, cima e baixo) buscando o melhor ponto para um desempenho satisfatório.
Feedback: ao sustentar uma nota obtendo a realimentação do amplificador (feedback) estamos na prática evidenciando os harmônicos individuais da série harmônica. Mudando a guitarra de posição muda o harmônico. Então é importante que, antes de ensaiar ou tocar você verifique os pontos no palco onde cada tipo de harmônico é reforçado. Ache pelo menos os harmônicos da tônica, terça e quinta.
Para mais visitem meu site
Para fazer download do meu cd clique aqui
Abaixo um video onde executo a música “Autumn Breeze”, do exemplo em áudio acima:
vc toca muito
tem como ensina as escalas pentatonicas pra guitarra ?
muito bom
Conteúdo espetacular, Parabéns! Meus estudos nunca mais serão os mesmos depois dessas aulas.
Que bacana Felipe, fico feliz com isso. Um grande abraço!
Parabéns Denis! Admiro muito se trabalho e seus métodos, so tem um problema é que as vezes não da pra entender o que você quer passar com as tabelas... Enfim fora isso ta tudo muito bom!
Qualquer dúvida Guilherme basta me perguntar, ou por email: denisguitar (gmail) ou visite o meu site: deniswarren pontocom Abração!
Pra quem fala que não precisa de matemática para tocar bem... Tá aí!
É isso mesmo, matemática é a essência, abração!
Obrigado pelos comentários pessoal e um abração!
muito boa aula! parabéns